Quais os benefícios da suplementação com colagénio? Será que funciona mesmo? Neste artigo deixo a minha opinião pessoal e profissional, com o intuito de ajudar a esclarecer os “supostos” benefícios do colagénio quando ingerido na forma de suplemento alimentar.
O colagénio é uma proteína que o nosso corpo produz naturalmente. Na pele apresenta-se como uma molécula "gigante" que resulta do somatório de pequenas moléculas que se unem em cadeia - os aminoácidos. Por sua vez, estas cadeias, agrupam-se formando uma fibra resistente e com elasticidade.
No entanto, com o avançar da idade vamos produzindo cada vez menos colagénio. Para além de uma capacidade cada vez mais reduzida de sintetizar colagénio, os mecanismos naturais que o nosso organismo usa na sua reparação, também começam a ser cada vez menos eficazes e é por isso que nas pessoas menos jovens o colagénio vai acumulando pequenos defeitos que se vão somando.
No que respeita à qualidade da pele, o colagénio é fundamental no suporte, estrutura e comportamento elástico. O seu papel é igualmente importante para o bom funcionamento dos ossos, cartilagens, ligamentos, tendões e artérias.
Por volta dos 30 anos o colagénio começa a diminuir. Muito provavelmente este declínio já está geneticamente pré determinado, mas é acelerado por radicais livres devido à má alimentação, o tabagismo, a exposição excessiva ao sol, a poluição, o stress, etc.
Com o avançar dos anos verificamos na pele um decréscimo progressivo na qualidade e quantidade de colagénio.
A importância do funcionamento do sistema digestivo
Para uma melhor compreensão sobre a lógica da suplementação com colagénio, convém relembrar que todos os alimentos que ingerimos iniciam o seu processo digestivo na boca, descendo pelo esófago, continuando depois até ao estômago e intestino.
Muito importante: o colagénio é uma molécula com dimensões muito superiores àquelas que podem atravessar a barraeira gastro intestinal, ou seja, o colagénio simplesmente não é absorvido!!!
Tal como acontece com as outras proteínas, o colagénio é digerido, ou seja, quebrado em moléculas mais pequenas - os aminoácidos - que são passíveis de digestão.
Assim, ao tomarmos um suplemento de colagénio, quando muito estaremos a absorver os aminoácidos que o nosso corpo poderá depois usar, ou não, para voltar a produzir colagénio.
A suplementação com colagénio é realmente benéfica?
Como já referi, o colagénio é uma molécula demasiado grande para ser absorvida pelo nosso organismo. Sempre que ingerimos colagénio via suplementos ou alimentação, o seu destino é o mesmo: a molécula é degradada aos seus compostos mais pequenos e esses sim podem ser absorvidos.
A conclusão é bastante simples: qualquer suplemento de colagénio (seja isolado ou adicionado em alimentos, bebidas ou cápsulas) é tão eficiente para aumentar a sua produção no nosso corpo, como qualquer outro alimento naturalmente rico nesta proteína.
Será que devemos acreditar que a toma destes suplementos, e logo, aumentando apenas a absorção dos nutrientes que compõe esta molécula, conseguimos induzir o nosso organismo a produzir mais colagénio? Nutrientes esses que já estão naturalmente presentes numa alimentação variada. Até ao momento desconheço a publicação de qualquer artigo científico válido e isento que ateste isto mesmo.
Para além de tudo isto, para que o nosso organismo produza colagénio precisa de muitas mais substâncias, como por exemplo a vitamina C, sem a qual esta síntese não ocorre, independentemente do aporte nutricional de colagénio.
Consideremos um exemplo clássico: a famosa doença dos primeiros exploradores marinheiros, o escorbuto.
Esta doença é a manifestação de uma deficiência de colagénio, resultante da falta de ingestão de vitamina C. Os marinheiros podiam não ter falta de aminoácidos, mas a bordo das naus a ausência de alimentos frescos fonte de vitamina C conduzia a uma grande deficiência nesta vitamina, que por sua vez, impedia a adequada produção de colagénio. Os marinheiros acabavam, assim, por desenvolver escorbuto.
E quanto a outras formas de administração de colagénio?
A aplicação tópica de cremes com colagénio é pura utopia! Mais uma vez, as fibras de colagénio são demasiado grandes para atravasserem a barreira cutânea. Logo, estes cosméticos não têm qualquer efeito sobre as reservas ou mesmo na produção de colagénio no tecido corporal.
O tratamento da pele com injectáveis de colagénio para preenchimento está associado a reacções alérgicas e de sensibilização, pelo que a sua utilização não está aconselhada.
O que devo procurar num suplemento para melhorar a minha pele?
O primeiro passo é básico e intuitivo: invista numa alimentação saudável e variada, não descurando as fontes de proteína.
Caso decida fazer suplementos e considerando o cuidado anti-idade da pele, sugiro que dê preferência a fórmulas contendo uma diversidade de nutrientes que auxiliem na produção de colagénio, mas também nas defesas da pele e da sua integridade estrutural. Deixo aqui uma listinha rápida de alguns dos meus ingredientes preferidos neste tipo de fórmullas:
- Vitamina A
- Vitamina C
- Vitamina E
- Carotenoides e Licopenos
- Ómega 3
- Resvertarol
- Zinco
Quais o tratamentos que me permitem estimular o colagénio na pele?
O Microagulhamento, Plasma Enriquecido em Fatores de Crescimento ("Vamipre Facelift"), Skinboosters, Preenchimento com Bioestimuladores e Fios para bioestimulação estão entre os tratamentos mais atuais e eficazes com esta indicação.
A minha opinião
Na minha opinião pessoal e profissional, as evidências científicas de que a suplementação com colagénio é eficaz na melhoria da qualidade da pele são muito escassas e muitas vezes associadas à indústria que os promove.
Excetuando períodos específicos em que o aporte dos aminoácidos do colagénioo por via alimentar está diminuída ou as necessidades do corpo aumentadas, este tipo de suplemento não parece decisivo no cuidado da pele.
Com toda a certeza vão ler e ouvir opiniões contrárias a esta, mas espero ter deixado algumas dicas úteis para que possam tomar decisões cada vez mais informadas.
Até breve!
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